A hora da estrela - Clarice Lispector
- Sala de Leitura
- 6 de jul. de 2020
- 13 min de leitura
Roteiro da Sala de Leitura
Período de: 29/06/20 a 03/07/20
Professoras Responsáveis: Altina Wagner da Silva e Filomena Aparecida Carballo Gadret
Número de aulas: 16
Ano/serie: Médio e fundamental final.
Habilidades: Reconhecer diferentes elementos que estruturam o texto narrativo (personagens, marcadores de tempo e de localização, sequência lógica dos fatos) na construção do sentido de romance e do conto do século XIX e XX, apropriando-se deles no processo de elaboração do sentido; ler, compreender, analisar e interpretar, etc.
Objetivo: Despertar o interesse na literatura e leitura dos jovens, leitura obrigatória no ENEM, abrir caminhos, fazer com que os alunos reflitam sobre seus objetivos.
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Essa semana vou falar de uma das minhas escritoras favoritas: Clarice Lispector, “A hora da estrela”.
Para quem está acostumado com resumos tradicionais, não é fácil fazer a síntese de A Hora da Estrela. Isso porque, aparentemente, nada acontece. Logo nas primeiras linhas, o que se percebe é a presença de um autor – o escritor Rodrigo S. M. – às voltas com certos impasses de sua carreira, tentando dar início à narrativa da história da nordestina Macabéa em sua vida cotidiana no Rio de Janeiro.
Rodrigo S. M. declara: “Pensar é um ato. Sentir é um fato” – e essas frases podem ser entendidas como uma apresentação da obra. De fato, as reflexões e os sentimentos registrados pelo escritor constituem parte da narrativa. Portanto, se o leitor espera algo acontecer para começar a fazer a sua síntese do romance, é bom se apressar, porque a história já começou.
Macabéa é introduzida aos poucos na narrativa, sobressaindo-se das reflexões de Rodrigo S. M. Ele se depara com ela em uma rua do Rio de Janeiro, quando, por intermédio de uma simples troca de olhares, a história da moça lhe é revelada. Alagoana, Macabéa perde os pais ainda muito criança e é criada por uma tia, que, no intuito de educá-la, dá-lhe constantes pancadas da cabeça com os nós dos dedos. Frequenta escola apenas até o terceiro ano primário e escreve muito mal. Mesmo assim, consegue levar adiante um curso de datilografia.
A tia muda-se para o Rio de Janeiro e Macabéa a acompanha. Arranja emprego como datilógrafa. Depois da morte da mãe de criação, passa a dividir um quarto de pensão com quatro moças que trabalham como balconistas. Pouco convive com elas, que chegam muito cansadas à noite e dormem logo, enquanto Macabéa fica ouvindo a Rádio Relógio ao longo das madrugadas.
Certo dia, resolve faltar ao trabalho e sair para um passeio. Encontra-se então com Olímpico de Jesus, metalúrgico nordestino. Ele a chama de “senhorinha” e a convida para um passeio. Para ela, é o começo de um namoro. Em suas conversas, ela exibe, sempre de forma precária, o conhecimento adquirido com as audições da Rádio Relógio, enquanto ele afirma sua disposição de crescer e ser alguém na vida.
Em uma visita a Macabéa no local de trabalho, Olímpico conhece Glória, colega da namorada. Interessa-se por ela e abandona Macabéa. Sem ter exata noção do quanto isso a faz sofrer, Macabéa recolhe-se ao banheiro do escritório e passa com força o batom vermelho nos lábios, para se sentir uma estrela de cinema.
Constrangida por lhe roubar o namorado, Glória dá dinheiro a Macabéa e aconselha que ela procure uma cartomante. Macabéa acata a ideia e vai até Madama Carlota, que lhe prevê um futuro brilhante e o encontro próximo de um grande amor. Ao sair da cartomante, Macabéa morre atropelada. Os transeuntes se reúnem em torno dela, que se torna, pela primeira e última vez na vida, o centro das atenções. Como uma estrela de cinema.
CONTEXTO
Sobre o autor Quando Clarice Lispector surgiu no cenário cultural brasileiro, em 1944, com o romance Perto do coração selvagem, foi saudada como uma revelação das letras brasileiras. Causou certo espanto a descoberta de que a autora que escrevia como uma mulher madura era, na verdade, ainda bastante jovem. Essas circunstâncias prenunciaram aquilo que o tempo confirmou: Clarice era especial. Até como escritora.
Importância do livro O romance A Hora da Estrela foi escrito em 1977, mas aborda um tema tradicional de nossa literatura: o contato do imigrante nordestino com a cidade grande. Esse assunto carrega uma forte carga política. Isso causou certo espanto, porque Clarice Lispector era vista como uma escritora alienada, distante desse tipo de temática. Aqui, ela aborda a questão sem abandonar o psicologismo de suas obras, mostrando as limitações daqueles que criticavam sua suposta alienação.
Período Histórico O fundo político das obras de Clarice nunca é óbvio. A Hora da Estrela, por exemplo, tem como pano de fundo o autoritarismo da sociedade brasileira no período da ditadura militar iniciada em 1964. No entanto, o tratamento do tema é sutil, mostra-se a interiorização da condição de oprimido e a reprodução da condição de opressor no plano das relações pessoais.
ANÁLISE
O romance apresenta três níveis narrativos distintos, embora complementares e interpenetrantes. Em um desse níveis, temos a história da própria narrativa. Ela é constituída pelas digressões do narrador, Rodrigo S. M., que desenvolve reflexões a respeito do fazer artístico. Para ele, pensar a respeito já é um fato, o que faz com que seus pensamentos adquiram a condição de acontecimentos na narrativa.
Em outro nível, temos a história do narrador. Sua identificação é restrita ao nome e às iniciais de seu sobrenome: Rodrigo S. M. (curiosamente, recurso parcialmente explorado por Clarice em A paixão segundo G. H., romance de 1964). O escritor manifesta as preocupações sociais que lhe são suscitadas pelo contato com os problemas da cidade grande. Mas o que o interessa, de fato, como escritor, é a possibilidade de registrar o momento efêmero, passageiro, volátil, aproximando-se, nesse sentido, da própria Clarice.
Rodrigo tenta combater a tendência de interromper sua narrativa para falar de si mesmo, mas percebe aos poucos que falar do outro é falar de si mesmo. Assim, a humildade extrema da nordestina Macabéa é uma transposição metonímica de seu próprio estilo: simples e sem espaço para sentimentalismo.
Por fim, temos a história de Macabéa. Seu nome, de origem bíblica, associa-se à força e à resistência, o que lhe dá uma configuração irônica, já que o comportamento da personagem mostra o avesso dessas características. Como muitas outras personagens femininas de Clarice, Macabéa é solitária e reflexiva. A novidade fica por conta de sua origem social humilde, distante da classe média em que figuram aquelas personagens.
Na trajetória de Macabéa, ganha destaque a relação com os outros. O namorado, Olímpico de Jesus, possui um senso de superioridade que acaba por distanciá-lo de Macabéa, escapando de um relacionamento amoroso que se caracteriza pela precariedade de sentimentos e de expressões de afeto. Glória, a colega de trabalho de Macabéa, é o par perfeito para ele, manifestando seu orgulho próprio por intermédio de uma sensualidade explícita.
O silêncio de Macabéa contrasta com o domínio da palavra manifestado por todos ao seu redor: Olímpico com seu discurso de vencedor, Glória com a certeza de seus atrativos sexuais e o próprio narrador Rodrigo S. M., em suas constantes intervenções metalinguísticas.
As previsões de Madama Carlota são outras tantas palavras que prenunciam um impossível fim das carências de Macabéa. Ao consultar a cartomante, a moça se sente “grávida de futuro”. Mas esse será seu limite: prestes a alguma coisa que talvez nunca viesse a se realizar, Macabéa encontra a morte ao ser atropelada por um automóvel. Vira centro das atenções e conhece a sua hora da estrela. De um lado, é tarde demais para ela; de outro, é sua única chance de viver essa experiência. Vive-a com o brilho intenso de uma estrela, mas também com a mesma fugacidade.
A Hora da Estrela Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: Se procura a adaptação cinematográfica deste livro, veja A Hora da Estrela (filme).
Autor(es): Clarice Lispector
Idioma: Português
País: Brasil
Editora: Rocco
Lançamento: 1977
Páginas: 87
A Hora da Estrela é um romance literário da escritora brasileira Clarice Lispector. O romance narra a história da datilógrafa alagoana, Macabéa, que migra para o Rio de Janeiro, tendo sua rotina narrada por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M. É talvez o seu romance mais famoso, por trazer uma narrativa diferenciada da que costuma apresentar em suas obras, muitas vezes considerada hermética e intimista ao extremo. A Hora da Estrela ainda traz consigo as questões filosóficas e existenciais que dão o tom característico da autora no romance. Foi adaptada para o cinema com o mesmo título por Suzana Amaral em 1985.
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça sonhadora e ingênua, recém-chegada do Nordeste ao Rio de Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes. Macabéa leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a namorar Olímpico de Jesus, que não vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória (colega de trabalho de Macabéa), cujo pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a possibilidade de melhora financeira.
Sentindo dores constantes, Macabéa vai ao médico e recebe um diagnóstico de princípio de tuberculose, mas não conta a ninguém. Glória percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo numa cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, no qual ela conheceria um estrangeiro, homem louro com quem casaria. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é atropelada por uma Mercedes amarela guiada por um homem louro e cai no asfalto, onde morre.
O narrador: Rodrigo S.M.
A Hora da Estrela traz consigo a forte presença de um narrador que conta a história ao mesmo tempo que a escreve, característica peculiar da autora. Clarice Lispector cria Rodrigo S.M. para contar a história de Macabéa, pois essa história não poderia ser contada por uma mulher. Rodrigo assume portanto, o papel de autor da história.
"Essa história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. Trata-se de livro inacabado porque lhe falta a resposta. Resposta esta que espero que alguém no mundo me dê. Vós? É uma história em tecnicolor para ter algum luxo, por Deus, que eu também preciso. Amém para nós todos.".[1] Esse exagero presente no discurso do narrador, causa no leitor certa angústia, sendo ele a consciência de Macabéa, que não havia conseguido ainda encontrar-se no mundo.
É possível perceber traços de ironia e desprezo partindo do narrador para a protagonista da história, uma das mais fortes características desse "duelo" de personagens que se contrapõem durante o texto, mas que ao final precisam um do outro para existir. "O narrador: sabemos que é um dos personagens principais. Desvenda-se na narrativa a sua problemática interior e a medida que nos faz conhecer a protagonista, também conhece a própria identidade." [2]
O narrador, portanto, tem em suas mãos o destino da história, logo também o de Macabea. " O narrador é onipotente. Cria um destino. É onisciente, pois sabe tudo a respeito de suas personagens. Tudo não. A verdade que o narrador inventa, ele não a conhece inteira.".[2] Rodrigo S.M., então joga através de sua narração com a vida de Macabea. Vida essa que não tem um sentido, pois a protagonista não se dá conta de que está viva. Isso faz com que o narrador algumas vezes se sinta culpado, mas não o impede de seguir contando as desventuras de Macabéa.
A protagonista: Macabéa.
As obras de Clarice Lispector retratam a alma do povo e da cultura brasileira. Macabea é todo aquele nordestino que vai até as grandes capitais do Sudeste em busca de uma vida melhor, porém depara-se com um mundo que não foi feito para ela. A busca por identidade da personagem se dá sempre que ela não se percebe como pessoa, apenas sobrevive. O enfoque no psicológico complexo da protagonista e as suas questões existenciais são recorrentes à obra da autora.
Macabéa, é uma jovem de 19 anos que após a morte da tia, sua única parente, decide ir para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. O único curso que a possibilitou ganhar um emprego foi o de datilografia. Apesar de ter poucas noções da língua portuguesa e de datilografar mal, ela se mantém no emprego pela falta de coragem de seu chefe em demití-la.
A heroína da história pouco compreende a vida, sua única ligação com o mundo é um radio-relógio, que a informa sobre todos os tipos de conhecimentos e curiosidades. Curiosidades essas que ela mesmo sem entender trazia em seus diálogos, com o namorado, Olímpico de Jesus, ou com qualquer um que desse um pouco de atenção a ela. "Ela falava coisas grandes mas ela prestava atenção nas coisas insignificantes." [1]
A protagonista de A Hora da Estrela trazia ainda questionamentos de ordem psicológica e filosófica, muitas vezes existenciais, mas ela própria só veio sentir a vida correr pelo seu corpo na hora de sua morte, grande ironia na vida da protagonista que durante 19 anos nunca sentiu qualquer tipo de prazer ou sentimento de contentamento.
Narrativa[editar | editar código-fonte]
Clarice Lispector tinha um jeito próprio de escritura onde seus textos facilmente circulavam em vários gêneros literários ou onde eles se esvaziavam como se não pertencesse a nenhum gênero. Ela mesmo em sua obra chega a dizer que não é possível classificar sua literatura. Dentro dessa perspectiva temos um texto exploratório e de caráter reflexivo (do próprio narrador), agonizante com relação a vida e a linguagem, em forma de longos monólogos (outra característica da autora) e dramático ao mesmo tempo que irônico.
Essa narrativa se dá através do autor fictício e narrador da história, Rodrigo S.M., que não mede esforços em sua escritura para tentar achar argumentos plausíveis para contar tal relato, que segundo o próprio não merece ser contado. Com essa briga interior, a história é iniciada, porém demora grande parte da narrativa para que ela ganhe de fato esse tom. O narrador se estende em explicações e questionamentos pessoais de qualquer ordem deixando o enredo de lado muitas vezes, soltando aos poucos informações sobre a heroína e sua vida, para apenas no meio da narrativa começar a fluir o enredo da história, que para quem lê Clarice Lispector, sabe que a linguagem se sobrepõe aos fatos e ao possível enredo.
"A ficção é invenção do real. Essa invenção, porém, não é mentira. O escritor adivinha o real. Qualquer que seja o que queira dizer "realidade". O universo ficcional como o universo real jamais tem começo.".[2] O narrador explica que esta história está sendo contada ao mesmo tempo que escrita, ou seja, é uma realidade inventada. Macabea existiu em algum lugar e tempo, e fora através da linguagem de seu narrador imortalizada com uma história para si.
Rodrigo S.M., diz ainda que está cansado da literatura e por isso não usará "termos suculentos" e frisa que ele poderia utilizar da linguagem para deixar a obra com um nível de linguagem espetacular, porém é hora de ser mais simples, pois a história merece esse tom. "Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados." [1]
O transcorrer da narrativa flui de forma mais simples a partir do momento que a protagonista vai visitar uma cartomante para descobrir seu futuro. O narrador aqui permite que texto evolua para o momento mais importante da obra, a hora da estrela de Macabea.
Título da obra
A Hora da Estrela possui na verdade 13 títulos. Na famosa entrevista para a TV Cultura de 1977 (ano de publicação do livro e também da morte da autora), Clarice Lispector deixa claro que o livro possui essa quantidade de títulos, que na verdade ajudam a desvendar a obra. Cada um dos títulos carrega consigo momentos marcantes do texto.
Os 13 títulos dados a obra são:
· A culpa é minha (O momento em que o narrador tem que decidir sobre a vida e morte de Macabéa);
· A hora da estrela (O título oficial do livro que remete ao momento de maior brilho da protagonista);
· Ela que se arranje (A maneira do narrador por a culpa na própria Macabéa por seu destino);
· O direito ao grito (Ela teria o direito de mudar sua forma de encarar o mundo ao qualquer hora, porém não o fez);
· Quanto ao futuro (Frase que explica muito sobre o livro, onde o futuro é incerto para todos);
· Lamento de um blue (O momento da morte da protagonista onde soava a melodia de um violino);
· Ela não sabe gritar (A incapacidade de Macabéa de "ser" e de se comportar como o padrão, se prendendo e sufocando seus gritos interiores);
· Uma sensação de perda (A mesma sensação de vazio que Macabéa sentia em seu próprio âmago);
· Assovio no vento escuro (O frio da morte chegando para a protagonista);
· Eu não posso fazer nada (A incapacidade de Rodrigo S.M. que não consegue salvar a vida de Macabéa);
· Registro dos fatos antecedentes (Como toda história ela registra fatos, que provavelmente poderiam ter acontecido realmente, porém aqui são contados e escritos juntos);
· História lacrimogênica de cordel (A saga de Macabéa ao deixar o nordeste e tentar vencer no Rio de Janeiro comparada aos grandes feitos na literatura de cordel);
· Saída discreta pela porta dos fundos. (A morte eminente da personagem principal e de seu autor/narrador, que só vive enquanto está escrevendo).
Análise da obra
Além da história de Macabéa, há no romance a história de Rodrigo S. M., o narrador, a descrição do processo criativo (discurso metalinguístico). Rodrigo e Macabéa não fazem parte do mesmo ambiente, esta por sua condição de retirante e aquele por ser visto com maus olhos pela classe média e não conseguir alcançar pessoas como a protagonista.
Toda a expressão do texto é para se explicar. Rodrigo S. M. acaba priorizando o relato dos recursos textuais a falar de Macabéa, que ironicamente só ganha papel de destaque perto da hora de sua morte. É nesse ponto que compreendemos o significado do título: A hora da estrela é a hora da morte de Macabéa, pois nesse momento ela deixa de ser invisível às pessoas, que percebem sua existência, porém apenas quando já não existe mais.
Clarice adota discurso regionalista em A hora da estrela, algo incomum em suas obras. Através da personagem Macabéa, a autora descreve uma nordestina que tenta escapar da miséria e do subdesenvolvimento, abandonando Alagoas pela possibilidade de melhores condições de vida no Rio de Janeiro. Clarice foi muitas vezes criticada por se afastar da literatura regional emergente do modernismo.[3] Em A hora da estrela, ela foge do "hermetismo" característico de suas primeiras obras e alia sua linguagem à vertente regionalista da segunda geração do modernismo brasileiro. Na época da publicação, o crítico literário Eduardo Portella falou do surgimento de uma "nova Clarice", com uma narrativa extrovertida e "o coração selvagem comprometido com a situação do Nordeste brasileiro".[3]
A hora da estrela é uma obra-prima da literatura brasileira, principalmente, pelas reflexões de Rodrigo S.M. sobre o ato de escrever, sua própria vida e a anti-heroína Macabea.
Contexto e publicação Clarice Lispector, autora da obra, comentou A Hora da Estrela em sua única entrevista televisionada, concedida em fevereiro de 1977 ao repórter Júlio Lerner para a TV Cultura, de São Paulo. Ela mencionou que acabara de completar um livro com "treze nomes, treze títulos", embora ela tenha se recusado a citá-los. Ela diz, que a obra é "a estória de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a estória não é isso, é sobre uma inocência pisada, de uma miséria anônima."[4][5] Na mesma entrevista, Clarice diz que usou como referência para Macabéa a sua própria infância no nordeste brasileiro, além de uma visita a uma feira onde nordestinos se reuniam em São Cristóvão. Ela diz ter sido neste local que capturou "o ar meio perdido" do nordestino na cidade do Rio de Janeiro.[4] Outra inspiração para a trama do livro foi uma visita que Clarice fez a uma cartomante. Na época, ela imaginou como "seria engraçado se na saída, ela fosse atropelada por um táxi depois de ouvir todas coisas boas que a cartomante previra".[4]
O romance foi escrito à mão em diversos fragmentos de papel, a partir dos quais Lispector, com a ajuda da sua secretária Olga Borelli, compôs a versão final.[6] O livro foi publicado em 26 de outubro de 1977, pouco antes da autora ingressar no hospital do INPS da Lagoa, no Rio de Janeiro.[7]
3. ↑ Ir para:a b Vieira, Nelson. "Jewish Voices in Brazilian Literature: A Prophetic Discourse of Alterity", Pág 111-112, University Press of Florida, 1995 ISBN 0-8130-1418-2, ISBN 978-0-8130-1418-0
4. ↑ Ir para:a b c Lerner, Júlio. Entrevista com Clarice Lispector, televisionado originalmente na TV Cultura, filmado em fevereiro de 1977.
6. ↑ Cadernos de Literatura Brasileira : Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles. 2004
7. ↑ Miguez, Cristina (10 de dezembro de 1977). «A morte de Clarice Lispector» (PDF). Folha de S.Paulo, Caderno Ilustrada. Consultado em 30 de dezembro de 2008
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