Leia a análise de Memórias Póstumas de Brás Cubas
- Sala de Leitura
- 26 de jun. de 2020
- 6 min de leitura

Professoras: Altina Wagner da Silva e Filomena Aparecida Carballo Gadret.
Período: de 15/06/20 a 19/06/20
Número de aulas: 16
Habilidades: Identificar em manifestações culturais individuais/e ou coletivas , elementos históricos, estéticos e sociais; reconhecer o texto literário produzido no século XIX como fator de promoção dos direitos e valores humanos atualizáveis na contemporaneidade; reconhecer diferentes elementos que estruturam o texto narrativo(personagens, marcadores de tempo e de localização lógica dos fatos) na construção do sentido do romance e do conto do século XIX, apropriando-se deles no processo de elaboração do sentido, tec.
Objetivo: incentivar o prazer a leitura, possibilitar o acesso a diversos tipos de leitura, buscando efetivar enquanto processo de leitura e escrita; estimular o desejo de novas leituras; além de aumentar o conhecimento, aumenta o vocabulário, facilita a escrita, etc.
Essa Semana queridos alunos vou falar de outro clássico da literatura brasileira e um dos meus autores favoritos: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, De Machado de Assis.
Resumo A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época, é marcada por privilégios e caprichos patrocinados pelos pais. O garoto tinha como “brinquedo” de estimação o negrinho Prudêncio, que lhe servia de montaria e para maus-tratos em geral. Na escola, Brás era amigo de traquinagem de Quincas Borbas, que aparecerá no futuro defendendo o humanitismo, misto da teoria darwinista com o borbismo:

“Aos vencedores, as batatas”, ou seja: só os mais fortes e aptos devem sobreviver.
Na juventude do protagonista, as benesses ficam por conta dos gastos com uma cortesã, ou prostituta de luxo, chamada Marcela, a quem Brás dedica a célebre frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. Essa é uma das marcas do estilo machadiano, a maneira como o autor trabalha as figuras de linguagem. Marcela é prostituta de luxo, mas na obra não há, em nenhum momento, a caracterização nesses termos. Machado utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor capte o significado. Brás Cubas não diz, por exemplo, que Marcela só estava interessada nos caros presentes que ele lhe dava. Ao contrário, afirma categoricamente que ela o amou, mas fica claro que, naquela relação, amor e interesse financeiro estão intimamente ligados.
Apaixonado por Marcela, Brás Cubas gasta enormes recursos da família com festas, presentes e toda sorte de frivolidades. Seu pai, para dar um basta à situação, toma a resolução mais comum para as classes ricas da época: manda o filho para a Europa estudar leis e garantir o título de bacharel em Coimbra.
Brás Cubas, no entanto, segue contrariado para a universidade. Marcela não vai, como combinara, despedir-se dele, e a viagem começa triste e lúgubre.
Em Coimbra, a vida não se altera muito. Com o diploma nas mãos e total inaptidão para o trabalho, Brás Cubas retorna ao Brasil e segue sua existência parasitária, gozando dos privilégios dos bem-nascidos do país.
Em certo momento da narrativa, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor. Enamora-se de Virgília, parente de um ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no casamento com ela um futuro político. No entanto, ela acaba se casando com Lobo Neves, que arrebata do protagonista não apenas a noiva como também a candidatura a deputado que o pai preparava.
A família dos Cubas, apesar de rica, não tinha tradição, pois construíra a fortuna com a fabricação de cubas, tachos, à maneira burguesa. Isso não era louvável no mundo das aparências sociais. Assim, a entrada na política era vista como maneira de ascensão social, uma espécie de título de nobreza que ainda faltava a eles.
Lista de personagens Brás Cubas: filho abastado da família Cubas, é o narrador do livro; conta suas memórias, escritas após a morte, e nessa condição é o responsável pela caracterização de todos os demais personagens.
Virgília: grande amor de Brás Cubas, sobrinha de ministro, e a quem o pai do protagonista via como grande possibilidade de acesso, para o filho, ao mundo da política nacional.
Marcela: amor da adolescência de Brás.
Eugênia: a “flor da moita”, nas palavras de Brás, já que era filha de um casal que ele havia flagrado, quando criança, namorando atrás de uma moita; o protagonista se interessa por ela, mas não se dispõe a levar adiante um romance, porque a garota era coxa.
Nhã Lo Ló: última possibilidade de casamento para Brás Cubas, moça simples, que morre de febre amarela aos 19 anos.
Lobo Neves: casa-se com Virgília e tem carreira política sólida, mas sofre o adultério da esposa com o protagonista.
Quincas Borba: teórico do humanitismo, doutrina à qual Brás Cubas adere, morre demente.
Dona Plácida: representante da classe média, tem uma vida de muito trabalho e sofrimento.
Prudêncio: escravo da infância de Brás Cubas, ganha depois sua alforria.
"Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de "menino diabo"; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce "por pirraça"; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia - algumas vezes gemendo -, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um "ai, nhonhô!" - ao que eu retorquia: - "Cala a boca, besta!"
Comentário:
O trecho mostra como foi a criação de Brás Cubas e os desmandos que o menino cometia. As ações do pequeno não eram apenas a expressão de uma criança levada, mas indicam como o filho de um membro da elite se comportava. Esse comportamento perdura, de outro modo, por toda a vida de Brás Cubas.
Sobre Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Neto de escravos alforriados, foi criado em uma família pobre e não pode frequentar regularmente a escola. Porém, devido a seu enorme interesse por literatura, conseguiu se instruir por conta própria. Entre os seis e os quatorze anos, Machado de Assis perdeu sua irmã, a mãe e o pai.
Aos 16 anos, Machado conseguiu um emprego como aprendiz em uma tipografia, vindo a publicar seus primeiros versos no jornal “A Marmota”. Em 1860 passou a colaborar para o “Diário do Rio de Janeiro” e é dessa década que datam quase todas suas comédias teatrais e Crisálidas, um livro de poemas.
Em 1869 Machado de Assis casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais sem o consentimento da família da moça, devido à má fama que Machado carregava. Porém, este casamento mudou sua vida, uma vez que Carolina o apresentou à literatura portuguesa e inglesa. Mais amadurecido literariamente, Machado publica na década de 1870 uma série de romances, tais como A mão e a luva (1874) e Helena (1876), vindo a obter reconhecimento do público e da crítica. Ainda na década de 1870, Machado iniciou sua carreira burocrática e em 1892 já ocupava o cargo de diretor geral do Ministério da Aviação. Através de sua carreira no serviço público, Machado de Assis conseguiu sua estabilidade financeira.
A obra literária de Machado era marcadamente romântica, mas na década de 1880 ela sofre uma grande mudança estilística e temática, vindo a inaugurar o Realismo no Brasil com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). A partir de então a ironia, o pessimismo, o espírito crítico e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira se tornarão as principais características de suas obras. Em 1897, Machado funda a Academia Brasileira de Letras, sendo seu primeiro presidente e ocupando a Cadeira Nº 23.
Em 1904, Machado perde a esposa após um casamento de 35 anos. A morte de Carolina abalou profundamente o escritor, que passou a ficar isolado em casa e sua saúde foi piorando. Dessa época datam seus dois últimos romances: Esaú e Jacó e Memorial de Aires. Machado morreu em sua casa no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1908. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão e foi decretado luto oficial no Rio de Janeiro.
Seus principais romances são: “Ressurreição” (1872), “A mão e a luva” (1874), “Helena” (1876), “Iaiá Garcia” (1878), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1891), “Dom Casmurro” (1899), “Esaú e Jacó” (1904) e “Memorial de Aires” (1908). Além dessas obras, Machado de Assis possui uma extensa bibliografia que abrange poemas, contos e peças teatrais.
Obter o Livro: http://machado.mec.gov.br/obra-completa-lista/item/download/16_ff646a924421ea897f27cf6d21e6bb23
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